O excesso de capacidade e o aço barato afetam a produção mais sustentável e a transição verde.
Para entender esse problema, é preciso levar em conta que existem dois tipos dominantes de produção.
Por um lado, o processo BF-BOF (Blast Furnace-Basic Oxygen Furnace) é o método tradicional de produção de aço, baseado no uso de carvão (coque), minério de ferro e calcário. É mais caro do que o processo do forno elétrico a arco (EAF), especialmente em países com energia cara ou com regulamentações ambientais rigorosas. Também é muito mais poluente, gerando entre 2,1 toneladas de dióxido de carbono (CO2) por tonelada de aço.
Aço barato
Globalmente, de acordo com a OCDE, o aço produzido em BOF representa cerca de 70% da produção total, e os fornos elétricos representam o restante. Em países como a China, o BOF ultrapassa 90% da produção. Por outro lado, mais de 50 países produzem aço somente com fornos elétricos.
Em 2024, a China foi responsável por 46,2% da capacidade global. Ela atingiu 1.141,5 milhões de toneladas. Seu modelo de produção é baseado em altos-fornos e BOF, uma rota intensiva em carbono. Em contrapartida, os fornos elétricos, que usam sucata reciclada ou ferro reduzido, emitem menos CO2.

Além disso, a China produz aço barato. O Estado fornece subsídios e há menos controles ambientais. Isso reduz os preços globais. Como resultado, as usinas que usam a tecnologia BOF na América do Norte, Europa e América Latina sofrem perdas ou fecham.
CO2
O setor de ferro e aço gera quase 8% das emissões globais de CO2. Ele é responsável por cerca de 30% do total de emissões industriais. É um dos setores mais poluentes do mundo.
A produção de uma tonelada de aço emite, em média, 1,9 toneladas de CO2. No entanto, o processo BF-BOF produz até 2,3 toneladas. Em contrapartida, o processo EAF, que utiliza sucata, emite apenas 0,7.
A redução dessas emissões é fundamental para atingir as metas climáticas. Mas a transição enfrenta obstáculos. O excesso de capacidade e as distorções de mercado limitam o investimento em tecnologias limpas.
Além disso, grande parte da nova capacidade ainda depende de processos com uso intensivo de carbono. Mais de 40% da capacidade global projetada entre 2025 e 2027 também usará BF-BOF, de acordo com a OCDE.