A seguradora de crédito francesa Coface destacou três razões pelas quais os medicamentos nos Estados Unidos são mais caros.
A Coface indicou que os medicamentos de marca nos Estados Unidos custam entre três e quatro vezes mais do que em outros países desenvolvidos, principalmente devido à ausência de um negociador central, sistemas de preços opacos e estratégias da indústria farmacêutica focadas nos lucros.
Os medicamentos nos Estados Unidos são mais caros
De acordo com um relatório da Coface, tratamentos campeões de vendas como Keytruda e Eliquis representam 90% dos gastos, apesar de constituírem menos de 10% das prescrições, já que os genéricos dominam o mercado.
Para lidar com essa disparidade, o presidente Donald Trump está tomando medidas. Além das recentes tarifas elevadas para o setor, ele reativou, por meio de uma ordem executiva (maio de 2025), a política de preços de medicamentos da Nação Mais Favorecida (NMF).
Essa política busca reduzir os preços dos medicamentos, vinculando-os aos preços mais baixos pagos por outros países ricos, ajustados ao PIB per capita.
No entanto, o relatório da Coface afirma que o futuro legal dessa política continua incerto, uma vez que foi bloqueada pelos tribunais em 2020 e essa pressão está levando as farmacêuticas a reconsiderar alguns de seus preços.
No entanto, a redução dos preços dos medicamentos nos Estados Unidos pode gerar perdas de receita para as farmacêuticas de marca.
Para compensar esses efeitos, será necessário redistribuir a carga em nível mundial. Isso poderia impulsionar os preços na Europa, um mercado que há muito tempo está protegido dos altos custos farmacêuticos.
Estas são as três razões apresentadas pela Coface para explicar por que os medicamentos nos Estados Unidos são mais caros, segundo a Coface:
Liberdade de mercado
Os preços dos medicamentos nos Estados Unidos são elevados porque o sistema prioriza a liberdade de mercado em detrimento da regulamentação centralizada. Ao contrário de países como a França ou o Reino Unido, onde um único órgão regulador estabelece preços máximos com base no valor clínico agregado e na rentabilidade do medicamento, os fabricantes americanos podem fixar os preços de tabela praticamente sem restrições. Isso resulta em preços iniciais que costumam ser várias vezes superiores aos da Europa.
Esse ponto de partida alimenta uma complexa rede de intermediários, incluindo gestores de benefícios farmacêuticos (PBM), seguradoras e distribuidores, cujas negociações de descontos e decisões sobre formulários geram “preços líquidos” opacos que permanecem ocultos para pacientes e empregadores. A concentração do mercado amplifica essa tendência, já que três PBM controlam mais de 80% do mercado e um pequeno grupo de distribuidores domina a distribuição.
Medicamentos de marca
Para as grandes farmacêuticas, os Estados Unidos continuam sendo o mercado mais lucrativo, o que sustenta seus gastos substanciais de capital e investimentos em P&D. Os americanos gastam aproximadamente US$ 450 bilhões por ano em medicamentos prescritos (cerca de metade do total da OCDE em 2023).
Noventa por cento desses gastos são destinados a medicamentos de marca. Esses lucros são essenciais para o ciclo de inovação da indústria: cada novo tratamento requer um financiamento significativo para P&D e acarreta um alto risco, já que aproximadamente nove em cada dez projetos de desenvolvimento de medicamentos fracassam. Os Estados Unidos também concentram mais da metade dos gastos mundiais em pesquisa biofarmacêutica, o que permite avanços em oncologia, imunologia e terapias avançadas.
Além disso, as receitas americanas estão se tornando indispensáveis à medida que a indústria se aproxima do vencimento iminente das patentes. Entre 2025 e 2030, vários medicamentos campeões de vendas perderão sua exclusividade, colocando em risco até US$ 200 bilhões em vendas anuais. Essa maior vulnerabilidade torna fundamental manter o poder de fixação de preços nos Estados Unidos para sustentar a inovação e compensar as perdas de receita previstas.
Regulamentação
Os preços dos medicamentos nos Estados Unidos melhoraram ligeiramente, mas não houve uma reforma radical. Embora as novas iniciativas visem reduzir os custos para os pacientes, os preços continuam muito mais altos do que em países semelhantes.
Futuro legal
A Lei de Redução da Inflação de 2022 marcou um marco importante ao conceder ao Medicare (que cobre 20% dos americanos) o poder de negociar os preços de certos medicamentos de alto custo a partir de 2026. Ela também limita os aumentos anuais de preços à inflação. O modelo de preços NMF, recentemente reativado, vai além ao vincular os preços americanos aos mais baixos de países semelhantes. Embora seja improvável sua aplicação em todo o mercado, o modelo indica uma postura de preços mais agressiva. No entanto, seu futuro legal ainda é incerto.
Plataformas de vendas
As plataformas de venda direta ao consumidor estão transformando a dinâmica dos preços. Essas plataformas permitem que os fabricantes de medicamentos vendam diretamente aos pacientes, sem intermediários ou cobertura de seguro. Como absorvem as margens dos intermediários, podem oferecer descontos (em comparação com os preços de tabela originais). A TrumpRx é o exemplo mais recente deste tipo de plataformas. O seu lançamento está previsto para 2026 e os preços serão negociados a nível federal. A Pfizer foi a primeira empresa a aceitar incluir medicamentos de custo elevado nesta plataforma. Em troca, recebeu isenções tarifárias.
Além disso, as empresas poderiam aproveitar essas plataformas oferecendo medicamentos cuja patente está prestes a expirar. Isso poderia ajudá-las a fidelizar os pacientes (antes que os genéricos entrem no mercado). Um exemplo é o Eliquis, um anticoagulante de grande sucesso cuja patente expira em breve. Agora ele será oferecido com desconto por meio da plataforma de venda direta ao consumidor (DTC) da Pfizer e da BMS.
Apoio político
Aumentar os descontos do Medicaid para gerar apoio político. Empresas farmacêuticas como a Pfizer oferecem descontos maiores em medicamentos mais vendidos através do Medicaid, sob o princípio da nação mais favorecida (NMF). Embora o Medicaid represente menos de 10% da receita, essas medidas ajudam a manter o volume de vendas e a gerar apoio político.