15 de Setembro de 2025

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Transmissão do vírus H5N1 através da carne importada

15 septiembre, 2025
Portugués
Transmission of the H5N1 virus through imported meat
Photo: ABPA.

Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), destacou a baixa probabilidade de transmissão do vírus H5N1 através da carne importada.

Também presidente do Conselho Internacional de Aves, Santin divulgou uma análise crítica sobre esse risco sanitário e suas implicações econômicas globais.

O vírus H5N1 da Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) é um patógeno relevante, com riscos principalmente para a saúde animal e com impactos significativos na segurança alimentar e no comércio internacional. 

Transmissão do vírus H5N1

Apesar de sua capacidade de persistência em produtos avícolas crus, Satin analisa criticamente a possibilidade de transmissão do vírus para a produção avícola industrial local por meio de carne importada inspecionada por um serviço veterinário reconhecido. 

Com base em evidências de organizações intergovernamentais (WOAH/OIE, FAO, OMS, CDC, FDA), ele conclui que o risco é praticamente nulo. 

Portanto, ele defende a revisão das políticas comerciais baseadas em um princípio de precaução obsoleto, propondo uma nova abordagem equilibrada que preserve tanto a saúde animal quanto o acesso a proteínas avícolas essenciais para populações vulneráveis.

A seguir, apresentamos os pontos de vista de Santin:

Controle sanitário

A gripe aviária H5N1 tem despertado cada vez mais atenção desde seu surgimento na década de 2000. Sua letalidade em aves e sua capacidade de transmissão esporádica para humanos geraram preocupação mundial. Além disso, seu impacto afetou fortemente o comércio internacional de produtos avícolas.

A principal transmissão ocorre entre aves vivas, seja por contato direto ou por exposição a secreções e fezes. No entanto, o medo da contaminação dos alimentos levou à imposição de barreiras comerciais. Em muitos casos, foram medidas desproporcionais, mesmo contra cadeias sob rigoroso controle sanitário.

Resistência do H5N1 ao congelamento

Estudos de laboratório mostram que o vírus H5N1 pode sobreviver em carne crua congelada. Sua viabilidade é mantida por mais de 60 dias a –18 °C ou menos. No entanto, essa resistência não representa um risco real de infecção.

O perigo desaparece sob controles sanitários rigorosos. Primeiro, quando a carne passa por inspeção veterinária antes e depois do abate. Depois, ao ser submetida a processos industriais controlados. Finalmente, ao ser destinada ao consumo humano e cozida a temperaturas de 74 °C ou mais. Essa condição inativa o vírus antes de chegar ao consumidor, de acordo com dados do CDC, FDA e FAO/WOAH.

Análise de risco para a produção industrial local

Em certos cenários, o risco de introduzir o H5N1 em animais vivos por meio de carne importada é praticamente nulo. Isso ocorre quando os países utilizam rações industriais tratadas termicamente, mantêm fazendas isoladas e proíbem subprodutos crus na alimentação animal.

Além disso, o risco é reduzido quando os resíduos são eliminados de forma controlada e são realizadas inspeções sanitárias de rotina. De acordo com critérios epidemiológicos, o nível de ameaça é próximo de zero.

A OIE considera seguro o comércio de carne de aves abatidas sob inspeção. Aceita até mesmo a importação de países com surtos de gripe aviária, desde que os produtos não provenham do foco. Por isso, a proposta de zoneamento deve ser avaliada com urgência nos países que ainda não a aplicam em suas relações comerciais.

O princípio da precaução: quando se torna uma barreira comercial

A aplicação estrita do princípio da precaução pode ser contraproducente. Isso ocorre especialmente em produtos que já passaram por inspeção sanitária e são destinados ao consumo humano. Nesses casos, as medidas comerciais podem ser desnecessárias e desproporcionais em relação à ameaça real.

O fechamento dos mercados de carne de aves nessas condições tem efeitos claros. Não reduz significativamente o risco sanitário. Além disso, penaliza economicamente os países exportadores. Também gera inflação dos alimentos nos países importadores e afeta principalmente as populações de baixa renda, limitando o acesso a proteínas de alto valor biológico e ricas em aminoácidos essenciais.

O paradoxo das aves migratórias

Enquanto se proíbe a importação de carne inspecionada sob rigorosas precauções, as aves migratórias continuam circulando livremente entre as fronteiras. Frequentemente, elas atuam como vetores assintomáticos do vírus da gripe aviária de alta patogenicidade.

Ignorar essa fonte natural de disseminação e superestimar o risco dos alimentos industrializados demonstra uma incoerência nas políticas sanitárias internacionais. Por isso, essas políticas requerem revisão urgente, considerando as evidências técnicas e econômicas disponíveis.

Conclusão

Em condições controladas de produção, abate e processamento, os produtos avícolas destinados ao consumo humano não representam risco sanitário para os plantios industriais de outros países. Isso se aplica desde que não sejam redirecionados para a alimentação animal nem entregues a aves vivas. O risco de transmissão do vírus da IAAP por essa via é praticamente insignificante, tecnicamente nulo.

Nesse contexto, o bloqueio comercial baseado em um princípio de precaução exagerado carece de fundamento técnico e prático. Além disso, afeta a oferta global de produtos avícolas, desequilibra os mercados e prejudica o bem-estar nutricional das populações mais vulneráveis.

Propõe-se uma mudança de paradigma regulatório. Esta deve basear-se no risco real, na ciência e na proporcionalidade. Reconhece que as zoonoses circulam naturalmente, mesmo por meios incontroláveis, como a migração de aves selvagens. Afinal, que risco maior representam os produtos avícolas que já não esteja presente nas aves selvagens ou migratórias?

Referências:
  • Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH/OIE). Código Sanitário para Animais Terrestres, 2023.
  • Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 2023. Gestão de risco da gripe aviária para o comércio.
  • Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Gripe aviária altamente patogênica (HPAI) e segurança alimentar, 2024.
  • Organização Mundial da Saúde (OMS). Gripe aviária: Avaliação do risco de pandemia, 2024.
  • Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA). Gripe aviária e produtos alimentícios, 2024.
  • OPAS/OMS. Boletim Técnico sobre Gripe Aviária, 2023.

 

Imagen cortesía de Redacción Opportimes | Opportimes